Uma neurocientista que se tornou autora. Lisa Genova se inspirou na história de sua avó com Alzheimer para escrever “Para Sempre Alice”, livro que inspirou o filme responsável por dar um Oscar de melhor atriz a Julianne Moore.
Lisa veio ao Brasil para lançar seus livros na Bienal do Livro do Rio de Janeiro e tive a oportunidade de conversar um pouquinho com ela. Veja só:
Como você se tornou escritora?
Não foi de forma consciente. Sou neurologista, mas minhas avó teve Alzheimer. Mesmo a responsabilidade não sendo minha de cuidar dela, eu quis abraçar esse momento e aprender tudo o que podia sobre a doença enquanto a ajudava. Mas todos os conhecimentos que conseguia adquirir eram muito clínicos ou científicos, o que era legal para meu lado neurocientista, mas queria saber mesmo como era ter a doença, viver com ela. E minha avó não conseguia responder essa pergunta porque já estava em um estágio bem avançado.
Me sentia mal por ela e por nós. Minha vó já não sabia mais quem nós éramos e não conseguia nem imaginar como era estar no corpo dela naquele momento. Então pensei na época: um dia vou escrever um livro sobre a doença da perspectiva de quem a tem. A ideia era fazer isso como um hobby, quando fosse mais velha. Tinha 28 anos e estava trabalhando longas horas na época.
Passados dois anos, após o nascimento do meu primeiro filho, pedi demissão para ficar em casa com ele por seis meses. Me divorciei e acabei não voltando ao trabalho. Foi então que decidi escrever a história da minha avó. Muita gente me chamou de irresponsável e louca pela decisão. Disse que não era inteligente. Inicialmente a ideia era escrever um único livro, mas percebi que se fizesse um bom trabalho teria a responsabilidade e a oportunidade de atingir muitas pessoas e mudar a conversa global sobre Alzheimer e outras doenças cerebrais. Quem sofre com elas, tem medo, vergona e vive com o estigma.
Você recebe muitas mensagens dizendo que suas histórias ajudaram seus leitores?
As pessoas não sabem nada sobre Alzheimer, por exemplo, e com o livro, acabam vendo a doença de um jeito mais humano, com empatia e compaixão. Se você não entende, não dê as costas a quem tem. Geralmente, as pessoas com problemas neurológicos são isoladas porque tem quem não se sinta confortável para lidar com elas. Ler esse livro encoraja o público a incluir essas pessoas de volta em suas vidas. Pessoas com doenças neurológicas se sentem invisíveis e todo mundo merece ser ouvido. Quando quem vive a doença lê essas histórias e reconhece sua trajetória, percebe que não está sozinho. O que pode, de certa forma, ajudar na cura emocional deste momento.
Todos os seus livros falam sobre doenças neurológicas. A ideia era chamar atenção para esse problema?
Sim, é uma nova forma de aprender. Nós somos projetados para aprender com histórias. Ouvi várias vezes durante os anos que os livros ajudaram famílias que tiverem a coragem de lê-los enquanto enfrentavam o problema. Queria tanto saber o que sei agora quando minha avó estava doente. Compartilho para que as pessoas não passem pelo processo como eu, e só se informem mais depois do ocorrido.
Seu livro “Para Sempre Alice” virou filme e rendeu um Oscar a Julianne Moore. Você participou da produção?
Fui muito sortuda. Me envolvi, sim, com a produção, com os roteiristas, dei consultoria nos scripts, fiquei no set durante as gravações, participei das viagens que promoveram o filme, fui a festivais e ao Oscar. Nos tornamos uma família, foi incrível.
Em quantos idiomas suas histórias foram traduzidas?
Não sei, a útima vez que olhei eram 37. Mais do que consigo falar [risos]
Quando descobriu que era uma autora famosa?
Não sei, os autores têm sorte porque não são reconhecidos como os músicos e atores. Às vezes, alguém sabe quem eu sou no mercado, então não é nada escandaloso. As pessoas conversam comigo, agradecem, dizem como meus livros os ajudaram, contam de suas famílias. Me sinto muito honrada e agradecida por se sentirem confortáveis em compartilhar a vida comigo. É lindo de ver.